Agora devias era ter dito sobre o que é querias que escrevesse aqui.
Se quiseres lançar tema estás à vontade. Mas para já levas com uma musiquinha que é 'prucausa' das coisas, ouviste?
Toma lá!! :p
"Sou um homem livre – e preciso da minha liberdade. Preciso estar
sozinho. Preciso meditar na minha vergonha e no desespero em retiro;
preciso da luz do sol e das pedras do calçamento das ruas sem
companheiros, sem conversação, frente a frente comigo, apenas com a
música do meu coração como companhia. Que querem vocês de mim? Quando
tenho algo a dizer, ponho-o em letra de forma. Quando tenho algo a dar,
dou-o. Sua curiosidade indiscreta faz virar meu estômago! Seus
cumprimentos humilham-me! Seu chá envenena-me! Nada devo a ninguém.
Seria responsável somente perante Deus – se Ele existisse!"
"Uma mulher é muito mais mulher aos 30 anos. Eis o que quero dizer: tome a mesma moça aos 20 anos e aos 30. No segundo momento ela será talvez umas sete ou oito vezes mais interessante, mais sedutora, mais irresistível do que no primeiro.
Aos 30 anos, a mulher se conhece mais e é por isso muito mais autêntica, centrada, certeira - no trato consigo mesma e na relação com o seu homem. Aos 30, a mulher tem uma relação mais saudável com seu corpo. Aos 30, ela está muito mais interessada em absorver do mundo o que lhe parecer justo e útil, ignorar o que for feio e baixo astral e ser feliz o máximo que der. Se o seu homem não gostar dela do jeito que ela é, dane-se!! Uma mulher de 30 só quer quem a mereça.
Aos 30, ela sabe se vestir. Domina a arte de valorizar as partes do corpo que lhes são pontos fortes e de tornar discretas aquelas que não interessa tanto mostrar. Melhora muito a qualidade da sua escolha de sapatos e acessórios, tecidos e decotes, cores e combinações, maquiagem e corte de cabelos. A mulher de 30 só vai na boa. Gasta mais, porque tem mais dinheiro, mas, sobretudo, gasta melhor. Tem gestos mais delicados, posturas mais elegantes, é mais graciosa e temperada. O senso de propriedade e a noção de limites de uma mulher de 30 não têm termo de comparação com outra de 20. Aos 30 ela carrega um olhar muito mais matador - quando interessa matar. E que finge indiferença com muito mais competência - quando interessa repelir.
Aos 30, a mulher não é mais bobinha. Não que fique menos inconstante. Mulher que é mulher se pudesse não vestia duas vezes a mesma roupa nem acordava dois dias seguidos com o mesmo humor. Mas aos 30 ela já sabe lidar melhor com esse aspecto peculiar da sua condição feminina. E poupa - exceto quando não lhe interessa poupar - o seu homem desses altos e baixos hormonais que aos 20 a transformavam.
Aos 20, a mulher tem espinhas. Aos 30, tem pintas. Encantadoras, perfumadas trilhas de pintas. Que só sabem mesmo onde terminam uns poucos e sortudos escolhidos. (Sim: aos 20 a mulher é escolhida. Aos 30, é ela quem escolhe. Aos 20, ela é comida por alguém. Aos 30, é ela que decide para quem dar. Etc.) Com 20 ela eventualmente veste calcinhas que não lhe favorecem. E as pendura no registro do chuveiro. Aos 30, usa lingeries escolhidas a dedo. Que, sempre surpreendentes e com altíssimo poder de fogo, o seu homem nunca sabe de onde saíram. Aos 30, a mulher aprende a se perfumar na quantidade certa. E com a fragrância exata para a sua pele, para a temperatura do dia, para os tons da roupa que está usando. A mulher de 30, muito mais do que a de 20, cheira bem, dá gosto de olhar, captura os sentidos, provoca fome.
Aos 30, ela é mais natural, mais elegante, mais sábia, mais serena. Menos ansiosa, menos estabanada. Desenvolve um toque macio e quente, que sabe ser a um só tempo firme e suave. Fica tudo mais uterino, mais helênico, mais glamouroso, mais sexualmente arguto.
Aos 30, a mulher não faz mais experiências esdrúxulas. Quando ousa, no que quer que seja, costuma acertar em cheio. No jogo com os homens, já aprendeu a esgrimir no contra-ataque, construindo seus xeques-mates em silêncio. Quando dá o bote, é para liquidar a fatura. Ela sabe dominar seu parceiro sem que ele se sinta dominado. Mostra sua força na hora certa, de modo subtil. Não para exibir poder - mas exactamente para resolver tudo a seu favor antes de chegar ao ponto de precisar exibi-lo. Garante para si o que quer sem confrontos inúteis. E brinca com a sua pretensa fragilidade como uma ferramenta lúdica de prazer - seu e do seu homem. Sabiamente, goza de todas as prerrogativas da condição feminina sem ter que engolir nenhum sapo supostamente decorrente do fato de ser mulher.
Se você, leitora, anda preocupada porque não tem mais 20 anos - ou porque os têm, mas já percebeu que eles não vão durar para sempre - fique tranquila, deixe de bobagem, desencane. Saiba que é precisamente aos 30 que o jogo começa a ficar bom."
Adriano Silva (Revista Super Interessante – 19/09/01)
Este é o texto publicado no dia 7 de Maio no Blog da querida Margarida Rebelo Pinto. Ainda deve estar para nascer a Mulher que não concorde com o que ela escreve neste post...
"HABITUÁMO-NOS a dar tanta importância ao sexo que deixámos para trás uma série de pequenos gestos que podem, afinal, ser tão grandes. Já dizia Oscar Wilde, não há coisas nem grandes nem pequenas, todas são importantes. O sexo é muito importante para a maior parte das pessoas; faz bem à saúde – enquanto praticado de forma segura – massaja a pele, o corpo, o ego e a alma, mas antes do sexo e depois deste há muito para olhar e ver, sentir e saborear, dizer e ouvir, aprender e ensinar, dormir e acordar. Antes e depois do sexo, há o ‘estar’. Então porque se torna tantas vezes mais difícil ‘estar’ com alguém do que um toca e foge sem consequências de maior? Talvez porque a nossa mente complexa, e não raro perversa, consegue sublimar no sexo a ausência de amor?
Ou porque na procura de outro corpo nos abandonamos e com esse abandono esquecemos momentaneamente a nossa solidão? Ou ainda porque na dança erótica do dar e do receber jogamos com o nosso poder? Seja o que for, para muitas pessoas dar uma volta com alguém parece muito mais fácil do que dar um passeio à beira-mar a lamber um gelado e a conversar sobre a vida.
NESTE fim-de-semana,faz três anos que recebi a visita da ceifeira. Quem me conhece sabe que ultrapassei o susto de um AVC sem sequelas e que só falo do assunto quando me questionam sobre ele. No entanto, passei meses a digerir o episódio, porque ele me fez olhar para a vida de outra forma: nunca mais deixei de ser feliz todos os dias, nunca mais deixei de ter prazer com os mais pequenos gestos, nunca mais me zanguei com o mundo, nunca mais deixei de me sentir abençoada por estar viva e sã, com todas as minhas faculdades motoras e cognitivas no seu pleno. E cada abraço dado foi ‘aquele abraço’ e cada beijo partilhado tornou-se inesquecível. A vida ganhou outro sabor, parecido com o do gelado que gosto de saborear quando passeio à beira-mar. Cada amigo novo que fiz se tornou o meu melhor amigo, e cada dia bem passado entrou para meu Guinness pessoal dos melhores dias da minha vida. Aprendi a deliciar-me com tudo: um sorriso de boas vindas, uma festa no cabelo, um casaco emprestado, uma manta a tapar-me as costas,o olhar ao longe de quem me quer bem. Cada gesto e cada momento tornam-se agora únicos e, por isso mesmo, muito belos. Admito o meu lirismo, mas não estou a romancear a vida, apenas a explicar que lhe dou outro sabor. Se o sexo for entrega e partilha, então ele que venha e que fique, mas se for uma forma de evitar o confronto e a intimidade, se for um escape ou um vício, então prefiro rever um bom filme ou ceder ao meu vício do chocolate.
O SEXO pelo sexo é uma grande chatice. Talvez sirva os instintos masculinos com eficácia, mas não conheço nenhuma mulher que o veja como um divertimento grato, a não ser esporadicamente. Nós precisamos de algum romance ou, na ausência deste, de respeito, cumplicidade e entendimento, e já agora de algum mimo. Tudo depende da carga que pomos em cada gesto, da sua intensidade, da sua finalidade. Às vezes um pequeno gesto pode ser muito; uma carta, u m presente ou um beijo bem dado valem mais do que um orgasmo."